Poesia

O Triângulo das Bermudas

Carrego em meus bolsos a primavera,
a alegria sincera ao andar por aí
conheci a vagar o que sempre quisera
sua estampa florida tal qual Havaí

Vem abelinha, louca e listrada!
Pousa encantada na minha bermuda
Fecunda esta flor em azul desenhada
Poliniza a cantar se é tua voz tão aguda

Nobre traje da guarda celeste e praieira
Faz de mim centurião implacável do Sol
e refresca-me os passos deixados na areia

Onde a onda primeira fez do mar seu paiol
a fagulha de vento o meu peito incendeia
É de pano a candeia! É de pano o farol!

agosto de 2018

Neologismo

Sob a supervisão do ciclope
Sob a nova lógica do ser
galopa, o galo a galope
nova ave no alvorescer

do dialético somlêncio
cujas meiadas e bordentros
dobro cada cadêncio,
de salsaída, de encoentro

Já toda-noite, sonoplástico,
solto um onomatorresto
depressa desempresto o eu-mim

desdesapego, eupego demais
esparo, celado e euquieto,
pelo onomatofim

outubro de 2020

Sopro

There was no fear
and there was no shame
the day when she came
and waved at me
the same way the sea
waves at the sand

outubro de 2015

Naufrágio

O balanço revolto do mar.
Macacos me mordam!
A peça naval está dormindo
no leito infinito do rio de sal.

Num porto que há em Singapura
foi morto com a cura pra dor e pro mal
meu amor pelas velas e mastros
e também pelos astros do mar sideral

Meu sangue regou minhas veias,
a boca das sereias, o vento e as marés
Ao invés de ser derramado
e manter encharcado o chão do convés

Meu reino era de azul-marinho
e nas festas o vinho foi minha coroa
Mas agora a saudade me mata
e só resta a ressaca beijando-me a proa

Os sonhos que sonham os marujos
são amargos e sujos para se sonhar
Navegar nas entranhas da terra
e vencer a guerra do bem contra o mar

Os sonhos que sonham os marujos
são amargos, são sujos para se sonhar
encontrar no horizonte o remanso
e o balanço revolto domar

junho de 2015

Recado

Meu coração, nunca mais vou amar,
devo me retirar às montanhas nevadas
para serem lavadas a mente e alma
se tanto te acalma distar-me do mar

outubro de 2017

O Atol

Estando nós dois abraçados
e eu cercado de você por todos os lados
olho ao redor, em seus olhos,
e me encontro, maravilhado

maio de 2015

Faroeste

Os raios de Sol já agraciavam as pontas molhadas das minhas botas de couro, mas meu amigo ainda estava no chão. A noite foi fria, e nem as canções do deserto podem agasalhar minha alma agora. Meu amigo, se a febre do ouro te levou ao delírio ou foram as vezes que te deixei do lado de fora do Saloon, pra que os seus olhos de criança não vissem a maldade dos homens, saiba que a falta que você me faz dói muito mais do que os toques de espora, que até agora, foram os únicos presentes que ousei lhe dar.

abril de 2015

Tecido

A maior parte de mim,
a minha frágil carapaça
que me protege e me separa
do mundo, do ar e de ti

Quando nu, ela vem e me veste
e os meus cabelos, fio-a-fio tece
me escreve nas pontas dos dedos
uma linda história de amor

E seremos um só, a terra e o firmamento,
em meu florescer, sua erupção, por favor!
Segura minha mão, cura os meus ferimentos

E me entende melhor porque sente minha dor
Oh! Condutor plástico dos meus sentimentos
Quando eu mudo de tempo, ela muda de cor

outubro de 2019

No. 1

Esta doce cantiga
despida de belos encantos
ser-lhe-á um acalanto
quando em prantos repousar

Lembrar-te-á, minha querida
que na vida há afagos,
mas nenhum me faz tão grato
quanto a prenda de te amar

Princesa da relva, amazona do campo,
enquanto tu espreitas, a sós pela selva,
contar-te-ão as aves o quanto te amo.

Dama do lago, deusa do luar,
dona da espada, crua afiada e alva,
desembainhada, a me empalar.

junho de 2014